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Nota solta... soLtinha

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Há muitas linhas a rabiscar-se por aqui nesta pista e, por aí, a nos aproximar, nos entremeando em nossas sujeiras, há também muitas que nos afastam e aquelas que produzem outras coisas... Mas quero acompanhar aquelas que nos afetam... 


Poder retornar presencialmente tem sido também um modo pelo qual temos nos curado, produzindo bons encontros, encontros de aumento de potência da vida. Retornar à escola e estar junto com os estudantes, como nos faz viver! As crianças provocam minha pele e respiração de um modo que só elas. 


Fazemos parte de um coletivo de mulheres trabalhadoras, em sua maioria oriundas das classes populares a nos compor por entre vias, passarelas, ônibus, trens, metrôs, e nossas casas, e nossos locais de trabalho, e nossa FFP, e nossas pesquisasescritas, e nossas coisas. Temos tido a alegria de nos produzir entre essas linhas, isso nos tem dado vida. Mas também me pergunto (nos perguntamos): Como estar na universidade como graduandas ou na pós-graduação, como mestrandas e doutorandas trabalhando em duas ou três escolas? Além das nossas coisas, sabe? (casas, filhos, bichos, idosos...). Curso noturno? Na graduação até existe curso noturno. Mas é só isso? É só sobre isso? Quais as condições que vamos encontrando e produzindo para estarmos aqui juntas? Como me encontrar presencialmente com os surdos na EMPF, e trabalhar o dia todo em outras duas escolas, e me encontrar com vocês, e cursar as disciplinas do doutorado, atentando também para as coisas que são singulares, cuidando de si e do outro? 

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Para além do tempo cronológico que impera sobre todas nós, temos cavado nossas próprias frestas. Encontrando-nos com os surdos, por exemplo, por pequenas brechas até final de agosto de 2022, produzindo com eles nossos encontros, nossos possíveis. Apenas no final de agosto (após mais de um ano de tentativas) consegui na rede de ensino de Niterói uma licença parcial que me permite uma abertura maior dentro deste processo chamado doutoramento. E isso precisa ser dito, pois é recurso público sendo investido em pesquisa na escola e universidade pública. Foi-me concedida uma licença parcial e temporária, que apenas alguns poucos conseguem, mas e os demais professorespesquisadores, como continuarão fazendo? Continuamos nos perguntando estas e outras questões, e continuaremos. As respostas não estão dadas. Vamos precisar continuar cavando. 
 

Perguntas politicamente necessárias, pois sentimos na pele o quanto alguns espaços não são feitos para periféricas, para trabalhadoras, para aquelas de nós membros de famílias que nunca em suas vidas pisaram em uma universidade pública ou mesmo sonharam com este espaço, para aquelas com filhos, para aquelas. que pela norma, não são mais consideradas jovens em idade de habitar os corredores da universidade e, em especial, para aquelas de pele retinta como minhas avós e como algumas entre nós, que ainda não são maioria, embora sejam maioria nos lugares onde nascemos. 
 

Com afeto, 
Arina 
 

24 de setembro de 2022

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Queridas amigas, 

Penso que temos, em alguma medida, conseguido rascunhar, por esta pista de linhas e dança onde nos encontramos, um modo de cuidado. Um modo de suportar o presente, cuidando da vida, produzindo-nos com alguma autoria. A fase mais aguda da crise víRus passou – sim, a sombra do víRus continua a nos acompanhar por essa pista e é também um de nossos intercessores. Durante algum tempo quis ignorá-lo, apagá-lo, esquecê-lo. Ao fazê-lo, produzi apenas sofrimento. Ao escancará-lo, ao escancarar a dor que ele causa e causou, tem sido possível catar os restos que ele deixou e, gaguejando, rabiscar alguma dança. Uma dança possível, uma dança que mais parece uma medicina. 


Mas não se trata de mim apenas, percebem? Há algo singularmente sendo produzido aqui. Como tatuou na carne nossa arteira-mestre “sou uma, mas não sou só”. Há um esforço por trazer aqui diários rabiscados singularmente produzidos – ainda que tão próximos, não são íntimos, a linha é tênue. 


Mas o cuidado... ah, esse só tem feito sentido quando é de si e de ti. Uma tentativa de estar com vocês, minhas amigas, com os surdos, com minhas avós e com meus livros e suas coisas produzindo fugas, atalhos e lapsos de autoria na produção de quem estamos nos tornando: “a una práctica de libertad en la elaboración de un proyecto ético abriendo así un minúsculo ángulo creativo. Artistas acotados y modestos tenemos un mínimo poder para hacer de la vida una obra de arte, es decir, tener alguna autoría en lo que somos. Foucault llama la atención sobre las técnicas de formación de subjetividad como “estética de la existencia” . 

Barrionuevo, 2022, p. 23. 

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