top of page
adesivo home_edited.png
adesivo home_edited.png

Nota solta... soLtinha

post it 2Ativo 4.png

2

     Estamos aqui a fabular a autoria, a brincar com as referências, a desafiar o cansaço do leitor, no meio a infinitas notas, a quem sabe desistir das etiquetas e apenas despir-se conosco e expor a própria nudez. Minha amiga, fizemos várias versões desse texto: uma para a biblioteca repleta de parênteses com as referências como dita a ordem da ABNT, uma física costurada à mão, um mural coletivo chamado padlet , um site  que é um completo emaranhado no qual se entra e não se sabe onde é seu fim ou início, e versões em arquivo pdf com os platôs tão soltos quanto suas notas.

     Ah, você já deve ter percebido que aqui falamos em primeira pessoa. Oscilo (oscilamos) entre o singular e o plural. Mas esse texto é de quem? Quem é seu autor? De qual bolso foi retirado? Qual a etiqueta está pregada em seu avesso? O avesso, do avesso, do avesso...

     É que nos encontramos com muitas gentes, um encontro entre desconhecidos. Nesses encontros entre desconhecidos, pego/pegamos sorrateiramente algo que não me/nos pertence,

A versão produzida para o exame de qualificação: <https://padlet.com/arinanina/ui77xauh021oafi0>

livroAtivo 3.png

Caetano Veloso.

livroAtivo 3.png
linkAtivo 1_edited.png

Nossos amigos, em uma musical conversa com Bob Dylan, escrevem que roubar não é o mesmo que plagiar, imitar ou fingir. Roubar diz de algo fora, que passa no meio, um entre-dois. É sempre uma dupla-captura, um duplo-roubo. Encontro outros e, nesses encontros, produzimos algo que “já não é de ninguém, mas está ‘entre’ todo mundo” . Um duplo-roubo que não se faz entre duas, três, quatro pessoas, mas que “se faz entre ideias, cada uma se desterritorializando na outra, segundo uma linha, ou linhas que não estão nem em uma nem em outra” , O que foi roubado já não é o mesmo que havia antes, mas restos de uma evolução a-paralela a produzir, no agenciamento do entre-dois, outra coisa. Um encontro é isso aí.

Deleuze e Parnet, 1998, p. 17.

livroAtivo 3.png

Deleuze e Parnet, 1998, p.26. (Diálogos)

livroAtivo 3.png

     Roubo palavras de outros. Confesso. Transformo o que não é meu em minhas palavras alheias . 
     Com uma bolsa a tiracolo (com alguns rasgos aqui e ali), sigo catando. As palavras misturadas, rabiscadas e costuradas se tornam palavras sem dono, uma cacofonia polifônica. Por vezes eu as como no café, as rumino de tardinha, as amarroto a noite em meu travesseiro e, assim, aos poucos, elas se tornam, também, minhas. 
  Trago neste textorabiScado palavras roubadas, catadas, gaguejadas, rabiscadas e costuradas no desejo de rascunharmos juntas nossa coreografia… 
     Essas minhas palavras, em outras vidas, roubei de muitos bolsos – não lembro de metade deles, é verdade, mas alguns ainda trago comigo quase como monumentos. Sim, pois sou assim também, por vezes, árvore com raízes profundas. Mas, me recuso a fazer disto aqui uma arborescência sem fim…

      Com a ajuda dos amigos Deleuze e Parnet (1998) penso sobre ato clandestino que trago desde menina. De andar catando coisas com uma rota bolsa a tiracolo. Roubo palavras de outrem.

livroAtivo 3.png

Bakhtin, 2011.

roubo(amos) algo sem valor, insignificante, que talvez não sentiriam falta, nem se dariam conta... mas que não é meu/nosso.E deixo(amos), sempre deixo(amos) algo. Algo que não pediram, algo que não procuraram. Algo íntimo, algo meu, algo nosso. Como se ao passar por ali, eu(nós) esquecesse(mos) e deixasse(mos) cair algo também. E assim “nos misturamos aos poucos trocando itens insignificantes” 
     Aqui cabem diferentes tipos de roubo. É que em nosso Coletivo, temos a mania condenável de entrar nos textos umas das outras. Um olhar atento e criterioso poderá encontrar aqui e ali algumas mesmas palavras, trechos inteiros que não pertencem nem a uma ou a outra, mas a várias, uma multidão. Trechos que se repetem em seus assim nomeados textos monográficos (de uma só?). Nessa fabulação, talvez estejamos de algum modo esgarçando os limites do que convencionalmente se chama de autoria, brincando e invertendo, ao menos por breves momentos, isso que temos na universidade de escrever textos monográficos, que pertencem a um só e que quando um outro entra está sempre destacado e acompanhado de sua devida e obrigatória etiqueta.
     Esta é uma escrita com corpo dentro, uma corporeidade de corpos vários. Essa língua que circula nas redes de especialistas, a língua dos apenas Cientistas, dos críticos de produção de verdades únicas são do plano de línguas que não se dirigem a ninguém, “que constrói um leitor ou um ouvinte totalmente abstrato e impessoal. Uma língua sem sujeito só pode ser a língua de uns sujeitos sem língua”(!) . Uma língua despovoada que se pretende universal, que fala para Todos, mas um Todos abstrato, sem corpo que na verdade não é ninguém. Uma língua de ninguém para corpo algum, a “língua que falam os fabricantes, os donos e os vendedores de realidade” .
     Não queremos falar apenas essa língua. Apesar de saber que d(n)ela também somos formados. Queremos juntas (sempre juntas) produzir uma língua que caiba a experiência, sempre singular, não individual, mas singular. Quem sabe ensaiar uma língua para conversação “para ver até que ponto ainda somos capazes de nos falarmos, de colocar em comum o que pensamos ou o que nos faz pensar, de elaborar com outros sentidos ou a ausência de sentido do que nos acontece, de tratar de dizer o que ainda não sabemos dizer e de tratar de escutar o que ainda não compreendemos (...) em uma língua que não seja independente de quem a diga, que diga algo a você e a mim, que esteja entre nós” .
     Aqui falamos em primeira pessoa, oscilando entre o singular e o plural, pois sustentamos (ou ao menos fazemos o esforço de) que “para podermos nos falar precisamos falar e escrever, ler e escutar talvez pensar, em nome próprio, na primeira pessoa, com as próprias palavras, com as próprias ideias. Obviamente, só podemos falar (e escrever) com as palavras comuns, com essas palavras que são ao mesmo tempo e de todos e de ninguém (...) Falar (ou escrever) na primeira pessoa não significa falar de si mesmo, colocar a si mesmo como tema ou conteúdo do que se diz, mas significa, de preferência, falar (ou escrever) a partir de si mesmo, colocar a si mesmo em jogo no que se diz ou pensa, expor-se no que se diz e no que se pensa. Falar (ou escrever) em nome próprio significa abandonar a segurança de qualquer posição enunciativa para se expor na insegurança das próprias palavras, na incerteza dos próprios pensamentos. Além disso, trata-se de falar (ou de escrever), talvez de pensar, em direção a alguém. A língua da experiência não só traz a marca do falante, mas também a do ouvinte, a do leitor, a do destinatário sempre desconhecido de nossas palavras e de nossos pensamentos (...) falar (ou escrever) em nome próprio significa também fazê-lo com alguém e para alguém.” .
     Por fim (só que não), não sei você, mas não gosto de quebrar a composição desta coreoGrafia com uma infinidade de parênteses, nomes em caixa alta, e referências, e números sem fim – por mais experimental e irregular que seja o ensaio que fazemos aqui, tenho meus caprichos. Se você quiser mesmo saber de quais bolsos roubamos tais palavras, caso faça questão – não prometo sucesso em todas, mas – parte desses bolsos você não encontrará (ENTRE PARÊNTESES) bloqueando em CAIXA ALTA nossa cambaleante coreoGrafia, mas rabiscado em algum canto pelas faces destes ramificados blocos, ou com links e hiperlinks, ou amarrotados em algum lugar com seu devido nome, endereço e número do sapato. Boa sorte! 

comentárioAtivo 2.png

Inspiramo-nos aqui em um encontro feliz com o filme “Drive My Car” e trouxemos um trecho da versão em português de sua legenda.

Larrosa, 2018a, p.59.

livroAtivo 3.png

Larrosa, 2018a, p.62.

livroAtivo 3.png

Larrosa, 2018a, p.71.

livroAtivo 3.png

Larrosa, 2018a, p.70.

livroAtivo 3.png
Link Gestos 7
bottom of page